Hoje me emocionei muito e queria partilhar isso com vocês.
Há muitos anos atrás, quando eu era criança, ganhei uma "avó" e um "avô": Vovó Celina e Vovô Celestino. Eles estiveram presentes em minha vida durante toda a infância e adolescência. Em 2004 meu avô Celestino voltou pra casa do Pai e em 2009, foi a vez da minha avó. Eles eram exemplos de fé, de amor, de carinho e de companheirismo. Andavam sempre juntos. Ambos muito engraçados, cada um ao seu modo. Meu avô vivia sorrindo e dizia que não havia nada melhor do que estar na casa de Deus. Eles sentavam no primeiro banco da igreja e foi muito difícil estar lá na frente, cantando sem vê-los ali, no lugarzinho que sempre foi deles.
Mas hoje tive uma linda surpresa:
Clica que aumenta
Um dia vamos nos reencontrar, na casa do Pai e será um dia muito, muito feliz. Sou muito grata a Deus por ter tido o privilégio de ter sido "adotada" por esses avós tão especiais, por ter tido deles tanto carinho, tantas orações, tanto afeto. Eles estão eternizados no amor que sempre sentirei por eles, pelo exemplo que eles sempre serão para mim e, um dia, meus filhos ouvirão falar das histórias de Vovô Celestino e Vovó Celina.
As toalhas estarão na minha casa com muito orgulho, lembrando que parte da minha felicidade de hoje é fruto das orações deles.
E deixo com vocês o texto que escrevi para eles logo após a partida da minha avó em Julho de 2009. Coincidência ou não, o texto foi escrito há exatamente dois anos: dia 19/07/2009 e hoje, 19/07/2011, as toalhinhas chegaram a mim.
Cilene e Rosa, obrigada por terem tido o carinho de guardá-las e por tê-las trazido a mim. Amo vocês.
Considerações sobre a morte
Uma verdade sobre mim: eu odeio o óbvio. Isso, é claro, dificulta minha vida em muitos aspectos. Mas isso não vem ao caso agora. O fato é que, odiando ou não o óbvio, eis uma verdade óbvia: a morte, até mesmo quando é realmente esperada, surpreende e choca. Há dois dias perdi uma pessoa extremamente querida. Alguém que me adotou como neta desde criança e eu, é lógico, me deixei adotar de bom grado.
Saber que aquela pessoa tinha apenas algumas poucas semanas ainda de vida não evitou que, diante do impacto da notícia da morte, eu ficasse aérea, anestesiada, com aquela sensação de que uma mão distraída encontrou meu coração e achou graça em apertá-lo... e não quer parar. Não sei se você já sentiu isso, mas estou com a sensação de que eu estou presa dentro de mim e não consigo sair. Nem sei se é isso mesmo, mas enfim.
Ontem no velório eu me revezava entre enxugar o rosto e observar as pessoas, que é uma das coisas que eu mais adoro fazer. Uns choravam contidos, outros se balançavam num choro que se negava a ser silencioso, alguns olhavam o caixão e balançavam a cabeça negativamente. O que será que esses pensavam? “Não, ela não deveria ter morrido agora!” ou “Não, como eu vou ficar agora sem a companhia dela aqui?” ou “Não, eu não estava preparada pra encarar isso agora” e por aí vai. Algumas homenagens, algumas recordações, uns lembraram o sorriso dela, outros a perseverança, outros ainda lembraram-se de como ela não guardava amargura em relação aos homens que atiraram nela e em seu marido num assalto há muitos anos. Mas teve uma coisa que me chamou atenção: as pessoas queriam VER. Eu confesso que vi, não por querer, mas por ir abraçar uma pessoa que estava ao lado do caixão, vi de relance, quase desavisadamente e me neguei a ver pela segunda vez. Acredite, o fato de eu não gostar de ver uma pessoa querida morta não tem nada a ver com o jargão manjado de que “eu prefiro guardar a imagem dela viva, sorrindo, etc, etc, etc”, mas tem a ver com a falta de resposta à seguinte pergunta: “Por que eu PRECISO ver?”
E eu me pergunto: por que as pessoas precisam VER? Numa situação dessa eu sempre tenho a sensação de que o ver é desnecessário, considerando que aquilo que ela É, na verdade, já se desprendeu do corpo e “voltou pra casa”. Então, enquanto eu ficava repetindo essa pergunta, eu via que as pessoas pareciam ter um misto de assombro e encantamento diante do corpo sem vida, acho mesmo que algumas ficavam ali perto pra ver se sentiam o sopro da morte dando voltas. Imagino que algumas devem ter projetado a própria morte e devem ter pintado em suas mentes um quadro no qual elas estariam naquela mesma situação: guardadas entre flores, com discursos ressoando, lágrimas escorrendo, olhos assombrados sobre si...
Há poucos dias, alguém me perguntou: “Já notou que em dias de perda sempre chove?”. Notei. E ontem notei novamente. Choveu, fez sol, choveu novamente. Por que será? Acho que chove em dias de perda porque são sempre dias de lamentação e eu penso que chove porque Deus tenta lavar o ar da sujeira provocada pelos lamentos que emanam dos corações inconformados com o que costumamos chamar de “perda”. Assim, choramos por nós, não por quem se foi. Choramos porque, simplesmente, não sabemos responder às perguntas que começam a rodopiar em nossas cabeças. Choramos porque nos sentimos acuados, choramos pela nossa impotência, choramos porque, diante disso, não há um “SAC” para onde podemos ligar e dizer que estamos insatisfeitos com a situação. Choramos porque não há o que dizer, choramos porque, no final das contas, só a morte nos coloca definitivamente em nosso lugar: o de humanidade... Humanidade é uma palavra que nunca vem sozinha, ela traz dentre outras, duas que nos aterrorizam: impotência e finitude. E nenhuma outra criatura da natureza parece negar tanto esses dois traços definidores do humano como o próprio homem.
Odiamos a morte não porque ela nos rouba alguém querido, odiamos a morte porque ela nos joga na cara tudo aquilo que negamos; ela nos confronta com nossa onipotência soberba, ela nos tira do mundo encantado da falta de limites, onde acreditamos que nada pode nos deter, onde nutrimos a fantasia de que temos em nós um “poder inextinguível”... A morte não tem papas na língua, embora ela tenha cor de silêncio e faça o mundo girar em câmera lenta.
Manoela Malta – 19/07/09
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